domingo, 3 de maio de 2009

Do arquivo I

Segundo dia, Eixo 3: Subjetividade, História e Aparências

Começando com um certo atraso em função da localização do auditório, iniciou-se o grupo de trabalho “Moda, Processos de Criação e Produção de Subjetividade”, comandado pelo simpatia de Rosane Preciosa e Cristiane Mesquita. Construindo a discussão um grupo multidisciplinar constituido por designer, pesquisadora, historiadora, arquiteta e figurinista, composto por Rita Andrade, Cristiane Mesquita, Lia Marcia Borges de Abreu, Rosane Preciosa Sequeira e Beatriz Ferreira Pires. Apresentando diferentes interfaces, propondo a discussão, gerada através da inquietação, da intervenção, construindo assim conhecimento. Um local que mobilize questões e gere formas escritas de pensamento, Rosane introduz o GT.
O grupo inicou com a exposição de Rita Andrade, com o título “Biografia Cultural das Roupas”. Sua tese partiu do estudo de um vestido parisiense datado de 1927, doado ao museu Paulista. O direcionamento do estudo não se deve ao testumunho de época que o objeto possui, mas sim pelas histórias que carrega. A investigação deve desdobrar-se para além da interpretação do momento de criação do objeto, deve-se relevar sua circulação social, as intervenções pelas quais passou, todos os momentos de construção. Esses vestígios fazem parte da interpretação do objeto, seu papel dentro da história. Este objeto não está no passado, mas sim no presente, não vestindo, mas sensibilizando.
Não estava programada, mas foi uma grande surpresa a apresentação da arquiteta Beatriz Pires: “Corpo – de objeto passível das mais diferentes formas de representação a suporte passível das mais diferentes linguagens”. Beatriz trouxe à discussão a arte Boby Modification, colocando o corpo como suporte passível das mais diferentes linguagens. Propõe duas correntes para essa apropriação: inserir-se no contexto contemporâneo, onde a plástica é um dos meios de transformação; ou, pela diferenciação, procurando uma estética diferente das formas inatas, humanas. Beatriz trouxe algumas imagens que ilustram esse movimento a fim de representar a busca dos adeptos do Body Modification por novas experiências através do próprio corpo. Essas transformações provocam um grande estranhamento. Eles procuram aprender o mundo de forma total através destas experiências com o corpo. Há dor sim, mas aprendem a controlá-la, “sentir” a dor (para nós) é diferente de observá-la (para eles), pois toda a dor é uma ruptura física e espiritual. É uma ruptura da identidade coletiva, desse corpo humano que nos identifica e aproxima como homens.
A seguir Lia de Abreu apresentou “Produzindo Figurino”. Lia coloca o figurino como processo de criação, transformação, reapropriação, retrabalhamento de códigos e representação. Numa relação moda versus figurino, a moda se preocupa na confecção de peças, no “em série”, enquanto o figurino confecciona a peça, executa um trabalho único. Possuir de uma função representativa necessita de um tratamento especial e de vivência das peças, cada roupa precisa ser trabalhada, um figurino não comporta peças “novinhas”, vazias. Ambas se aproximam na preocupação com a produtividade, vestibilidade e custo. “Transformar é a alma do negócio”, ressalta Lia. Enfatiza que é importante possuir um olhar para as diferenças, entender o por que, o como e onde aconteçem “as coisas”.
“Biopolíticas da Aparência”, um recorte da tese de Cristiane Mesquita, propõe o corpo como locus subjetivo, a aparência e constituição de si. É importante pensar o corpo. Nesse “aparecer”, todos possuimos redes estratégicas de poder, todos somos emissores e receptores desse poder.
A fala de Rosane Preciosa abordou “Considerações sobre moda e memória”. O trabalhou abordou a questão da memória revisitada, a incessante volta ao antigo por parte da moda. Um passsado renovado, reciclado ao gosto da época, mas com fins comerciais, “tratam-se de memórias inventadas”, afirma Rosane, há a comercialização de modos de vida. Em épocas de incerteza, nos voltamos para nós, para nossa memória, que é o campo seguro. Alerta que “supervalorizar a memória pode indicar falta de perspectivas para o futuro”.
Após a exposição dos participantes, foi aberto um espaço para discussão temática. Encerrando a manhã com colocações, trocas e bom humor.

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